E há 26 anos recebi a notícia que iria mudar minha vida para sempre, a perda das pessoas mais importantes da minha vida, recebi a notícia que um caminhão havia levado tudo embora.Eu tinha só 15 anos quando a vida começou a me obrigar a ser forte. Eu tinha só 15 anos quando aquele acidente levou meus pais pra tão longe de mim.
Ontem em uma consulta precisei contar a história de novo, e me peguei falando no quanto foi difícil terminar a adolescência, entrar na vida adulta, ter me tornado mãe, o quanto foram difíceis os vários momentos da minha vida que eu não tive as pessoas que mais vibrariam por mim não estarem presentes na platéia para me aplaudir, nos abraços que eu não recebi, nos colos que eu deixei de ter, nas orientações que eu não tive e em tantas coisas que eles me fazem enorme falta. E de repente eu percebi que ainda dói muito não ter eles aqui por perto, que é uma falta irreparável e uma saudade sem fim.
Naquela consulta me dei conta também que aprendi muito com as perdas que tive na vida. E é disso que quero falar hoje.
Aprendi que algumas pessoas que você nem conhece direito podem se tornar grandes amigos, que grandes amigos podem se tornar ainda mais amigos. Que outras parecem amigos mas saem da sua vida em um piscar de olhos. Aprendi que as pessoas vão gostar de você pelo que você é e não pelo que você tem, aprendi que você pode chegar ao fundo do poço que se você quiser vai ter apoio para sair de lá. Aprendi que não adianta você ficar apegado ao sofrimento por ter passado por uma dor tão grande. Aprendi que não sou vítima, que sim passei por grandes privações e dificuldades e que isso não me impediu de recomeçar sempre que fosse possível. Aprendi que posso ajudar as pessoas a dar um novo significado para a vida depois da perda. Aprendi que no seguir da vida você pode amar tanto alguém como amou aqueles que partiram. Acredito que sempre terão abraços, colos, ouvidos atentos mas que as vidas seguem com você sofrendo ou não. Que a verdade sempre vai ser o melhor caminho. Aprendi que você pode sim fazer boas escolhas, mesmo em momentos de imaturidade ou falta de orientação você ter tomado decisões inacertadas. Aprendi que se você não pedir, se você não buscar, se você não construir, se você não amar e principalmente não ser verdadeiro que você não vai ter. Aprendi que no quebra cabeças da sua vida algumas peças irão se perder no caminho e que mesmo com os espaços vazios você estará alí! E que pode ser uma escolha ficar apegada ao sofrimento ou construir sua história mesmo sentido uma saudade imensa.
E hoje é dia 2 de abril e eu termino este texto com a letra da linda música que conheci há alguns meses e que fala em canto o muito do que eu sempre me esforcei pra falar. Izabela Neves Freitas
“Não é sobre ter
Todas as pessoas do mundo pra si
É sobre saber que em algum lugar
Alguém zela por ti
É sobre cantar e poder escutar
Mais do que a própria voz
É sobre dançar na chuva de vida
Que cai sobre nós
É saber se sentir infinito
Num universo tão vasto e bonito
É saber sonhar
E, então, fazer valer a pena cada verso
Daquele poema sobre acreditar
Não é sobre chegar no topo do mundo
E saber que venceu
É sobre escalar e sentir
Que o caminho te fortaleceu
É sobre ser abrigo
E também ter morada em outros corações
E assim ter amigos contigo
Em todas as situações
A gente não pode ter tudo
Qual seria a graça do mundo se fosse assim?
Por isso, eu prefiro sorrisos
E os presentes que a vida trouxe
Pra perto de mim
Não é sobre tudo que o Teu dinheiro
É capaz de comprar
E sim sobre cada momento
Sorriso a se compartilhar
Também não é sobre correr
Contra o tempo pra ter sempre mais
Porque quando menos se espera
A vida já ficou pra trás
Segura teu filho no colo
Sorria e abrace teus pais
Enquanto estão aqui
Que a vida é trem-bala, parceiro
E a gente é só passageiro prestes a partir
Laiá, laiá, laiá, laiá, laiá
Laiá, laiá, laiá, laiá, laiá
Segura teu filho no colo
Sorria e abrace teus pais
Enquanto estão aqui
Que a vida é trem-bala, parceiro
E a gente é só passageiro prestes a partir”
Trem bala – Ana Vilela